domingo, 14 de julho de 2013

Meus olhos pesados se fecham... a cadeira de balanço - pra frente, pra trás... pra frente, pra trás - completa o serviço: cochilo... um cochilozinho leve.

Latidos de cães no corredor me trazem de volta ao presente. Moro no apartamento 192. No 191 moram duas velhinhas - duas irmãs: Joana e Magnólia. Elas tem menos tempo de vida que eu, mas são muito mais velhas... têm manias de velhas... usam roupas de velhas, comem comidas de velhas.

Elas fazem parte de grupos de idosos, grupos da terceira idade - tem gente que tem preconceito com a palavra 'velho'. Não tenho nada disso. Um bebê é novinho, um velho é um velhinho, mesmo.

E isso de chamar de 'terceira idade'... que coisa mais nonsense! Será que daqui a pouco vão criar 'quarta idade'? Sim, porque as pessoas estão vivendo mais... e se chegarem a mais de 120 anos, vão ser chamadas de 'pessoas na quarta idade'?

Deixa pra lá... não quero parecer rabugenta.

As minhas duas vizinhas são velhinhas, sim... e bem simpáticas. Sempre que as encontro no elevador, elas me 'seguram' pelo menos duas horas para falar de todas as doenças que têm. 'Ficar velho é assim mesmo... um monte de doenças', sempre repetem. Eu só aceno que sim com a cabeça... quem sou eu pra contrariar... tomo uns dez, doze comprimidos todos os dias: um pra cada coisa de mal que meu corpo tem. Mas não tomo nada pra mente, pro espírito - este não envelheceu... está novinho como o de um bebê.

Mas, não é disso que quero falar.

O inverno... não, não o inverno.... os latidos me fizeram lembrar de 'Moreno', o cachorro que por vinte anos acompanhou papai por todos os lugares. Papai ia pro moinho, Moreno ia atrás; papai subia na carroça, Moreno pulava atrás; papai sentava em sua cadeira na frente de casa, Moreno deitava ao seu lado. Era papai e Moreno, quase inseparáveis.

Digo quase porque quando papai ia à missa ou descia à cidade, Moreno ficava deitado ao lado da escada em frente à nossa casa... só esperando papai voltar.

Até hoje não entendo como Moreno sabia quando devia estar ao lado de papai e quando devia simplesmente deitar e esperar. Também não entendo como ele só chegava até à porta... nunca entrou em nossa casa. Não, acho que isso eu entendo. Provavelmente papai o tenha ensinado  a permanecer fora de casa... pode ser. Mas no moinho ele entrava. Como Moreno distinguia no que podia entrar e no que deveria ficar de fora?

Acho que lugar de cachorro não é dentro de um apartamento. Os pelos, o cheiro.... ah! fica cheiro sim. As minhas duas vizinhas dizem que não sentem cheiro de cachorro no apartamento delas; eu sinto - toda vez que entro lá.

Elas estão é acostumadas. Seus narizes estão repletos de moléculas de cachorro.

Sim, sim... os bichinhos são tão lindos e com aquelas carinhas de pidão... como deixá-los de fora?

E não é cheirinho de cachorro, não. É cheirão, mesmo....

Acho que me irritei... o cochilo estava tão bom. E esses cachorros com seus latidos.... aff! acho que é isto mesmo: fiquei irritada porque eles me tiraram da minha suave letargia...

Um comentário:

  1. Tô gostando deste blog... rsrs identifico algumas coisas da vó hahahaha

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