sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Olho à minha frente... é o mar que se descortina. A vista é simplesmente linda (uma hora coloco uma foto bem bonita pra você ver o que os meus olhos veem).

Eu fui professora. Hoje quando penso em mim, em frente a uma turma de crianças... eu ensinando... parece que foi um sonho. Quando eu era criança sempre dizia que seria professora. Todo mundo zombava de mim. Todos diziam que eu seria incapaz de ensinar... todos não, menos papai, é claro.

Eu gostava muito de ir ao colégio das freiras lá da minha cidadezinha... pra mim, aquele era um pedaço do céu. Você já percebeu como as freiras andam... como falam... o tom de voz... o olhar? Parece que estão sempre refletindo a paz do paraíso. E, por isso, eu gostava de passar tardes e tardes no colégio...

e foi assim que eu dei o meu primeiro passo para ser professora.

domingo, 14 de julho de 2013

Meus olhos pesados se fecham... a cadeira de balanço - pra frente, pra trás... pra frente, pra trás - completa o serviço: cochilo... um cochilozinho leve.

Latidos de cães no corredor me trazem de volta ao presente. Moro no apartamento 192. No 191 moram duas velhinhas - duas irmãs: Joana e Magnólia. Elas tem menos tempo de vida que eu, mas são muito mais velhas... têm manias de velhas... usam roupas de velhas, comem comidas de velhas.

Elas fazem parte de grupos de idosos, grupos da terceira idade - tem gente que tem preconceito com a palavra 'velho'. Não tenho nada disso. Um bebê é novinho, um velho é um velhinho, mesmo.

E isso de chamar de 'terceira idade'... que coisa mais nonsense! Será que daqui a pouco vão criar 'quarta idade'? Sim, porque as pessoas estão vivendo mais... e se chegarem a mais de 120 anos, vão ser chamadas de 'pessoas na quarta idade'?

Deixa pra lá... não quero parecer rabugenta.

As minhas duas vizinhas são velhinhas, sim... e bem simpáticas. Sempre que as encontro no elevador, elas me 'seguram' pelo menos duas horas para falar de todas as doenças que têm. 'Ficar velho é assim mesmo... um monte de doenças', sempre repetem. Eu só aceno que sim com a cabeça... quem sou eu pra contrariar... tomo uns dez, doze comprimidos todos os dias: um pra cada coisa de mal que meu corpo tem. Mas não tomo nada pra mente, pro espírito - este não envelheceu... está novinho como o de um bebê.

Mas, não é disso que quero falar.

O inverno... não, não o inverno.... os latidos me fizeram lembrar de 'Moreno', o cachorro que por vinte anos acompanhou papai por todos os lugares. Papai ia pro moinho, Moreno ia atrás; papai subia na carroça, Moreno pulava atrás; papai sentava em sua cadeira na frente de casa, Moreno deitava ao seu lado. Era papai e Moreno, quase inseparáveis.

Digo quase porque quando papai ia à missa ou descia à cidade, Moreno ficava deitado ao lado da escada em frente à nossa casa... só esperando papai voltar.

Até hoje não entendo como Moreno sabia quando devia estar ao lado de papai e quando devia simplesmente deitar e esperar. Também não entendo como ele só chegava até à porta... nunca entrou em nossa casa. Não, acho que isso eu entendo. Provavelmente papai o tenha ensinado  a permanecer fora de casa... pode ser. Mas no moinho ele entrava. Como Moreno distinguia no que podia entrar e no que deveria ficar de fora?

Acho que lugar de cachorro não é dentro de um apartamento. Os pelos, o cheiro.... ah! fica cheiro sim. As minhas duas vizinhas dizem que não sentem cheiro de cachorro no apartamento delas; eu sinto - toda vez que entro lá.

Elas estão é acostumadas. Seus narizes estão repletos de moléculas de cachorro.

Sim, sim... os bichinhos são tão lindos e com aquelas carinhas de pidão... como deixá-los de fora?

E não é cheirinho de cachorro, não. É cheirão, mesmo....

Acho que me irritei... o cochilo estava tão bom. E esses cachorros com seus latidos.... aff! acho que é isto mesmo: fiquei irritada porque eles me tiraram da minha suave letargia...

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Cada estação traz coisas boas e ruins. O outono na minha cidadezinha era tão agradável. O verão escaldante ia ficando cada vez mais pra trás. Transição entre verão e inverno... clima ameno. O outono das frutas era a estação mais gostosa.

Ao lado de nossa casa, havia um enorme pomar. Árvores frutíferas... várias. Lembro-me bem dos pés de pera, as laranjeiras, os pés de bergamota, de ameixa vermelhas... tão saborosas. As folhas caiam das árvores, formando um grande tapete no pomar.

Respiro o ar que vem do mar. Mas, magicamente, sinto o cheiro das frutas.

Mamãe fazia geleias. A minha preferida era de uva (que é de outra estação... o verão). Do outono, eu preferia o doce de pera.

Acordávamos cedo e depois do saboroso café íamos colher a fruta escolhida pra naquele dia virar um gostoso doce ou uma saborosa bebida.

Peras em conserva... geleia de pera... peras cristalizadas... peras cozidas com açúcar, canela e erva-doce.  Mamãe era habilidosa com os doces; papai fazia bebidas.

Nós conhecíamos como acquavit  - em italiano, é claro. Depois aprendi que em inglês é chamada de spirits; em alemão, schnaps; e spiriteaux ou eaude-vie, em francês, a aguardente feita com a bela pera.

Nós colocávamos em garrafas ou litros comuns; depois descobri que na França as garrafas da bebida têm a forma da fruta - se tivéssemos tido uma garrafa em forma de pera, certamente eu a teria guardado até hoje pra mim.

Colhíamos as peras. lavávamos muito bem com a água tirada do poço e depois tudo ficava por conta de papai. Ele pegava as frutas, entrava no porão e, piscando o olho, sempre nos dizia 'o mago vai entrar em ação'.

Sei que as frutas eram amassadas, viravam uma pasta mesmo; depois ficavam fermentando por um bocado de tempo; em seguida, passavam por um processo de destilação - tudo isso no nosso porão, que mais parecia um laboratório cheio de trecos que não sei nem dizer o nome.

Papai colocava parte da bebida em barris de madeira para envelhecer... hoje sei que é deixada em tanques de aço inoxidável.

O mais bonito pra mim e por muito tempo incompreensível eram as garrafas cheias de aguardente com a fruta dentro. Eu olhava, olhava e não conseguia entender como elas tinham ido parar lá pelo gargalo tão pequenininho da garrafa...

Papai um dia, pacientemente, me explicou:

'Un giochino... às vezes, quando as pereiras ainda estão com as frutinhas em forma de broto, escolho algumas e amarro uma garrafa nos galhos, para elas crescerem dentro da garrafa. Na hora em que as frutas já estão maduras e do tamanho certinho, tiro as garrafas com elas dentro e encho com o 'aguardente' já preparado...'

'Capisce, bambina?'

E eu fico aqui lembrando das coisas que aconteceram e das que não aconteceram também.... enquanto como uma maçã que veio não sei da onde, transportada por não sei quem, colhida por alguém que nunca vou conhecer e plantada por um anônimo qualquer desse mundão de Deus...

e com as peras é tudo a mesma coisa.







sábado, 6 de julho de 2013

Gelato

Fecho os olhos devagarinho... na boca o gosto forte do abacaxi com hortelã... muito gostoso. Mantenho a mente concentrada no sabor o maior tempo possível. Hoje eu realmente degusto o que como, o que bebo. Não tenho pressa, tenho todo o tempo do mundo - exatamente como quando eu era criança.

Voltando pra aquele dia frio de agosto de 1929, papai, meus irmãos, um de nossos empregados - Tonho - e eu chegamos em casa mais ou menos às 16 horas. A carroça estava carregada de lenha. O inverno é frio, muito frio. O fogão a lenha é abastecido de lenha, claro.

E nós fomos buscar. Para mim, sempre era um maravilhoso passeio.

Papai me tirou da carroça, me colocou no chão, afagou meus cabelos e disse para eu entrar na cozinha que mamãe tinha uma surpresa pra mim.

Corri pra dentro. Minhas irmãs estavam sentadas no chão da cozinha na frente do fogão. Puxei minha cadeirinha pra bem perto da portinha do fogão. O fogo crepitava e algumas faíscas voavam, as chamas dançavam bem diante dos meus olhos. Estendi minhas mãozinhas geladas na direção do fogo, e elas começaram a ficar quentinhas.

Lá fora trovões fortes ribombavam distante e a chuva começou a cair aos montes.

Mamãe chegou com minha canequinha e me entregou... também me deu uma colherinha... 'Experimente!', disse-me ela.

Coloquei na boca uma colherinha cheia do que aprendi ser... do que conheci naquele momento: gelato.

'No inverno, sempre temos gelato', mamãe disse. Quem fazia essa delícia era minha irmã mais velha, a Odi... ela pegava as canequinhas, fazia chá de hortelã. Depois cortava pedacinhos de frutas - ameixas, bergamotas ou laranjas -, cada dia era um tipo diferente (o chá também era de um tipo diferente a cada dia) e colocava no chazinho.

Odi pegava todas as canequinhas e as colocava de manhãzinha lá fora no frio, em cima de um caixote. À tarde, nós tínhamos gelato saboroso. Minha irmã era muito esperta. Essa foi a primeira invenção dela.

Papai entrou na cozinha, cantarolando. Olhou pra nós, suas três filhas queridas e disse: "la felicità è un gelato!".

Durante muitos invernos, ele repetiu esta frase pra nós e para os outros filhos que foram chegando.

Agora, no verão, minha neta Carol, me leva para comprar um monte de sorvete e picolés na Amoratto. Eu encho meu freezer e sempre lembro da frase que papai repetia quando estávamos rodeando o fogão e com nossa canequinhas nas mãos, tomando o delicioso gelato: la felicità è un gelato.

Mudou a estação, mudou a forma de se fazer o gelato.... mas sempre é uma felicidade tomar um sorvete.

O gosto de hortelã na minha boca agora... me transportou para aquele dia lá atrás... parece tudo tão real... mas a cadeira pra frente, pra trás, pra frente, pra trás me lembra de que não estou lá, estou aqui...  bem aqui.


terça-feira, 2 de julho de 2013

O inverno de 1929...

O inverno de 1929 foi  muito frio. Não só na minha cidadezinha, mas em quase todo o Sul do país.

Papai era um dos homens mais informados da cidade. Nós tínhamos um aparelho de rádio... e papai recebia dois jornaizinhos por mês.

Quando os jornais chegavam era uma festa. Primeiro papai lia tudo silenciosamente - lá no escritório do moinho. Depois lia tudinho em voz alta pra nós e pra mamãe. Papai lia muito bem com sua voz forte - ele era cantor do coral da igreja.

Eu sentia um orgulho enorme do pai que tinha: proprietário do único moinho; cantor do coral da igreja e, às vezes... muitas, ajudante do padre durante a missa - ele passava com um prato de alumínio recebendo o dinheiro que as pessoas doavam pra igreja - o dízimo; um dos poucos homens da minha cidadezinha que recebia jornais pelo correio; tinha um rádio....

O rádio era dele. Ninguém podia ligar, ninguém, nem mamãe, tinha permissão para sequer encostar no aparelho.

E papai só ligava à noite. Mais ou menos das 19 às 21 horas ele ficava mexendo naqueles botões redondos e brilhantes tentando sintonizar uma voz qualquer. Às vezes.... mas só às vezes mesmo, ele parava o botão em uma música.

Pegava mamãe nos braços e rodava com ela pela sala. Lembro que mamãe ficava tão vermelha que parecia um tomate usando um vestido.

E papai rodava, rodava com ela... e dava gargalhadas. Nunca ouvi mamãe dar uma gargalhada... nunca.

Às vezes, depois que desligava o rádio, papai contava alguma história interessante sobre quem tinha inventado o rádio: 'um italiano chamado Guglielmo Marconi', dizia ele. Mas que também um padre brasileiro de Porto  Alegre - nossa capital - em 1894 transmitiu a voz humana por oito quilômetros em linha reta, da avenida Paulista até o Alto de Santana, na zona norte da cidade de São Paulo.... e não teve nenhum sucesso.

E que, quando repetiu a experiência em 1900, foi taxado de bruxo... e os fiéis de sua igreja invadiram seu laboratório para quebrar todos os seus aparelhos... 'poveretto'... era sempre com essa palavra que papai terminava sua narração.

domingo, 23 de junho de 2013

Tomei meu suco vagarosamente... Há muito tempo aprendi sobre a importância de mastigar bem os alimentos. Lembro-me muito bem a primeira vez que minha nutricionista me disse: 'mastigue a sopa'.

Como assim? Mastigar a sopa? Claro, claro... não é mastigar no mesmo sentido que você mastiga o churrasco - adoro churrasco -, mas tem de mastigar sim, porque a digestão do alimento começa não só com a trituração dos alimentos mas também com a mistura da saliva com a comida.... hum... aí eu entendi.

E ela continuou: 'quanto menor o alimento e mais bem misturado com a saliva, melhor será a digestão... e, se a senhora comer devagar, também terá menos tendência a engordar, vai apreciar melhor os alimentos... ah! e jamais, jamais mesmo coma enquanto está assistindo TV ou falando ao telefone' (acho que ela sabe que fico horas em frente à TV e as horas que sobram falando ao telefone).

Claro que a última orientação desobedeço sempre... porque ninguém é de ferro e também porque algumas regras podem... devem, na verdade, ser quebradas.

Enquanto tomava meu suco com um conta-gotas (brincadeirinha...), lembrei da primeira vez que peguei um telefone pra falar com alguém... não lembro quem era...

O telefone tocou, eu estava sozinha em casa e fui obrigada a atender.

'Alô! Quem fala!?'
"Alô... quem fala, por favor?'
"Eu perguntei primeiro', falei toda nervosa... e a pessoa, acho que entendeu que era uma total ignorante em matéria de atender o telefone... então se identificou e perguntou se minha filha estava em casa...
'Por que você quer saber?', perguntei...(meu Deus que tansa)
'Preciso falar com ela'...

Aí eu não aguentei mais meu nervosismo e comecei a rir, rir... que não acaba mais. E a pessoa do outro lado simplesmente desligou...

Nunca contei pra ninguém isso. Mas o problema é que morro de vergonha de falar em público... e foi isso que aconteceu... não, não só isso. Eu também esqueci - esqueci, não... eu não sabia que tinha de colocar o telefone de volta no gancho - deixei o fone do lado do telefone até à noite, quando meu marido chegou, viu e perguntou o que o fone estava fazendo fora do gancho...

E eu com a maior cara de surpresa...ah! acho que deixei aí quando fui limpar o aparelho... (porque eu passava álcool nele duas ou três vezes por dia, pra matar as milhares de bactérias).

Por falar em álcool, depois descobri que o álcool que eu usava só deixava as bactérias muito doidas... ou que elas se faziam de mortas...

Enfim, graças a Deus ninguém morreu lá em casa por usar o telefone cheio de bactérias doidinhas da silva ou fazendo de conta que estavam mortas....

E terminei meu maravilhoso suco.... O movimento de carros na avenida agora está mais intenso... vejo também várias pessoas andando ou correndo na beira-mar. Um barquinho lá longe... próximo das pequenas ilhas....

E o céu se fez azul outra vez... nenhuma nuvem... não há vento... não ouço canto dos pássaros. O único barulho mesmo é o da civilização: carros e ônibus passando, a minha vizinha do andar de baixo passando o aspirador, uma britadeira no prédio que estão construindo na quadra ao lado da minha, a música tocando no radinho da minha secretária - não gosto dessa música que ela ouve... já pensei em dar um aparelhinho com fones de ouvido pra ela... acho que vou dar no próximo Natal - e um helicóptero circulando bem sobre a minha cabeça...

Daqui a pouco vou comer uma maçã - outro hábito diário...





sábado, 22 de junho de 2013

Mas, voltando pro presente... atendi o telefone. Carol, depois de contar todas as novidades - ela sempre tem milhões de novidades pra contar -, disse que estava telefonando especialmente pra  me convidar pra uma apresentação de Sofia, minha bisneta. Sofia, a bailarina... uma das formas de nos referirmos a ela... há várias outras.... nunca vi uma menina tão esperta.

Sofia iria se apresentar com seu grupo de Jazz no Teatro Governador Pedro Ivo, na sexta-feira da semana seguinte... e eu não poderia faltar.

Primeiro eu disse que não... não iria. À noite, o que gosto mesmo de fazer é dormir... e ir a um espetáculo de dança!? Música alta, barulho... já estou cansada só de pensar em ir...

Mas Carol sabe argumentar: 'bisa. você tem de ir... Sofia está dançando tão bem.... e ela vai ficar triste se você não for.' Pronto falou a palavrinha-chave: 'triste'... droga! ela sabe mesmo como me convencer...

E mais, continuou Carol... 'bisa você tem de sair, passear, aproveitar bastante a vida... vamos lá, toda a família vai... até o vovô Roberto vem de São Paulo pra assistir... vamos, vamos... sei que você vai amar'.

Uma vozinha dentro de mim dizia que ela tinha 100% de chance de ter razão: eu iria gostar...

Então, deixei de ser ranzinza e aceitei.... agora é começar a pensar com que roupa eu vou... até lembrei daquela música 'com que roupa eu vou...' de Noel Rosa... bons tempos aqueles...

Hora do suco: Madalena (a minha secretária) trouxe o meu preferido - abacaxi com hortelã.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Trim... trim... trim... o telefone outra vez.... Não, não... não é mais este o som do meu telefone. Agora é musical... e toca uma música diferente pra cada pessoa que está na agenda.... pelo toque é minha neta Carolina... diariamente ela me telefona, e ficamos conversando por um bom tempo... falo com ela e com meus bisnetos... falamos, e falamos, e falamos... Temos uma mesma operadora e pagamos baratinho por horas de conversa.

Hoje é bem diferente de quando o telefone chegou à minha casa em 1980. Eram poucas as casas que tinham telefone e só era usado em casos de emergência, ou para falar com meus filhos. Durante muito tempo mantivemos um contato telefônico bem especial todos os fins de semana.

Hoje falamos todos os dias... todos os dias...

Mas naquela época, telefone era artigo de luxo. Um telefonema não podia durar mais do que 5 minutos... às vezes durava mais... e no fim do mês, quando a conta chegava, nos arrependíamos imensamente por ter usado mais tempo, gastado mais dinheiro.

Nossas conversas, quase invariavelmente, eram assim:

'Oi... tudo bem?'
'Sim, aqui tudo bem... e com vocês.'
'Aqui também está tudo bem.' 'Quando vocês vêm para cá?'
'Acho que na semana que vem ou na outra.'
'Que bom... estamos com saudades.'
'Nós também.' 'E vocês quando vêm pra cá?'
'Não sei... seu pai está trabalhando muito, então nos fins de semana tem de descansar... mas uma hora aparecemos aí.'
'Que bom... vamos esperar.' 'Então, nenhuma novidade?'
'Não nenhuma... tudo igual' .... ou às vezes... 'Ah! sim, Mariana ganhou nenê... é uma menina linda.' ou... alguém que casou, ou morreu, ou mudou de cidade - o mais raro de acontecer -, ou qualquer outra coisa bem banal.
'Então tá bom... vamos desligar.'
'Sim, vamos desligar... e o tempo como está?'
'O tempo está quente demais'.... ou frio demais... ou uma seca danada... ou normal...
'Então tá... um beijo pra todos... e fiquem com Deus.'
'Um beijo pra vocês e fiquem com Deus também.'

e click...

E eu ficava morrendo de vontade de ouvir a voz de meus netinhos... mas imagina gastar com telefone pra falar com as crianças... nem por sonho alguém podia ter esse tipo de pensamento.
Saudades... quantas saudades eu sinto. Do primeiro momento que tenho na lembrança - inverno de 1929, na carroça com papai e com Justino e Federico.

Eu era a garotinha de papai.... e meus dois irmãos implicavam comigo. Eu tinha nas mãos - sempre - uma cadernetinha cheia de anotações. Não eram minhas anotações, eram anotações de papai. Ele era o dono do único moinho num espaço enorme de vilarejos... e usava cadernetinhas para anotar tudo sobre o que moía, vendia, comprava....

'Pra que levar esse caderninho?' 'Você nem sabe ler!' 'Não sabe desenhar e se soubesse não tem nenhum lápis...", diziam os dois pra mim. E eu? Eu não me importava - sabia que estava segurando nas mãos todo o meu futuro: queria ser professora (que como você já sabe fracassei antes mesmo de começar.... ou não). Outras vezes, odiava os dois por me dizerem aquelas palavras ruins e enchia os olhos de lágrimas.

E papai me abraçava e sempre dizia 'lascia stare, bambina mia...'. E eu fungava, limpava o nariz e secava as lágrimas.... engolindo seco... e abraçava a cadernetinha como se fosse o bem mais precioso do mundo.

Inverno gelado aquele... mas não foi só o frio que fez as pessoas sofrerem muito naquela época...

Primeiro momento gravado na minha memória até o de há poucos minutos.... saudades do que vivi.

Terei saudades da vida... quando eu partir?

E a cadeira pra frente, pra trás, pra frente, pra trás.... mais um cochilozinho....

domingo, 16 de junho de 2013

E a memória não vive o tempo cronológico... é só, ou quase só, tempo psicológico.

Maio de 1940.... entrei na escola em 1934. Barbarina entrou em 1940. Como foi difícil pra ela aprender a ler. Os números... ela entendia como ninguém.... as letras embaralhavam completamente a cabeça dela.

E ninguém conseguia fazer com que ela aprendesse a ler. Fui incumbida da estrondosa tarefa. Em 1940, quando Barbarina começou a estudar... eu estava no quarto ano. Não precisa ser muito esperto para perceber que eu também tive sérias dificuldades de aprendizagem. E agora a árdua tarefa tinha sido entregue a mim. Barbie tinha de aprender a ler.

A cartilha: figuras coloridas e palavras em tinta preta no papel branco. As palavras eram realmente assustadoras e não faziam sentido nenhum. Os desenhos, pelo contrário, diziam tudo o que as palavras eram incompetentes para nos fazer entender.

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'Vovó viu a uva.' 'O bebê baba'.

E Barbi aprendeu a ler as figuras.... mas ninguém se deu conta disso. Até que um dia....

A professora, D. Helena,  alta, magra, com os cabelos sempre presos em um coque e um colar dourado, que fazia a gente pensar que ela era riquíssima... Ela tinha automóvel também. Na verdade o automóvel era do marido dela - o único médico da cidade.... e o único automóvel também. Naquela época... depois chegaram outros... automóveis. Outro médico, só depois que casei e saí de lá.

D. Helena chamou Barbi para a frente da sala - prova de leitura.

D. Helena ia apresentando folhas de papel cartão branco - com um desenho - e a respectiva palavra três vezes escrita, em assustadoras letras garrafais. E Barbi ia indo muito bem... até que

'Carote, carote, carote...' leu quando a professora apresentou a cartela com três lindas cenouras....

D. Helena teve um ataque.... só nesse momento ela percebeu que Barbie não sabia ler nada de palavras... ela lia, sim... lia figuras.

Na folha tremendo na mão de D. Helena, furiosa, estavam três lindas cenouras... e as palavras: Cenoura - Cenoura - Cenoura...

e a estúpida da Barbarina leu em italiano,  ou melhor, disse o nome das figuras na língua que falávamos em casa.

Não preciso contar das reguadas que levou nas mãos... dos joelhos dobrados nos grãos de milho durante o resto da aula.

E da surra que eu levei quando mamãe ficou sabendo do ocorrido. E Barbarina continuou sendo ruim com as letras o resto da vida... Mas os números! Esses acompanharam Barbie por toda a parte e ainda hoje ajudam a aumentar a renda da família.

Contar que sempre faço o bolo de cenoura - o preferido - quando Barbie vem me visitar trouxe-me à memória a minha incapacidade de ensinar alguém a ler... incapacidade que me acompanhou pro resto da vida também.

Tem gente que nasce pra ser professor... não eu.


sábado, 15 de junho de 2013

Penso muito nisso que meu irmão sempre falava. Quero acreditar que não é verdade, quero acreditar que a vida tem alguma utilidade. Mas é difícil. Que utilidade existe em algo cujo fim já está determinado.

Não importa se farei grandes coisas em minha vida, ou se jogá-la na sarjeta... o fim será exatamente o mesmo. Talvez ele tenha razão: o que devemos fazer é o essencial para sobreviver e fim... qualquer gasto de energia pra além da sobrevivência é energia gasta inutilmente.

E a cadeira pra frente, pra trás... pra frente, pra trás.

O telefone toca. Estendo a mão e pego o aparelho que está na mesinha ao lado da minha cadeira. São 9 horas... é minha irmã Bárbara... Barbarina. Ela é professora aposentada, mas ainda dá muita aula particular. Aula de matemática. E ela ganha um bom dinheirinho com isso. As pessoas têm grande dificuldade com a matemática, pra serem aprovados muitos alunos a procuram... e ela gosta do que faz.

Ela mora numa cidadezinha também aqui do litoral: Itapema. Telefonou, como faz todos os dias às 9 horas, e aproveitou para me dizer que viria me visitar antes do fim do mês. Fiquei feliz... gosto quando ela vem para cá. Lembranças as mais diversas são o assunto de nossas conversas.

Sempre faço bolo de cenoura quando ela vem. É o preferido dela, e do Bento, meu sobrinho... Tomamos chá com bolo, e o que sobra ela leva para o café do dia seguinte.

Barbarina, quando criança, adorava as estrelas. Ela ficava até muito tarde, olhando para o céu... acho que ela acabou decorando o lugar de cada uma delas. Mas o que ela gostava mesmo de ver era
a chuva de meteoros que acontecia em muitas madrugadas.

Na época nós nem imaginávamos que eram meteoros, acreditávamos mesmo que eram estrelas que caiam mesmo. Meteoros são pequeninos corpos celestes que se movimentam pelo espaço e entram na atmosfera de nosso planeta. Eles queimam parcial ou totalmente por causa do atrito com a atmosfera da Terra... e isso deixa um risco luminoso no céu, que nós chamamos de estrelas cadentes.

Nas noites em que não havia Lua, o espetáculo luminoso era simplesmente fantástico....

Adivinha quem ficava na rua - fosse verão, fosse inverno - com Barbarina para ela não ficar sozinha?
       
Chuva de meteoros promete show de "estrelas cadentes" no céu do Brasil

E as lembranças vêm... da escuridão... do frio... dos barulhos estranhos da madrugada. Os monstros que povoavam nossas mentes aproveitavam essas noites de excursão pelo céu para nos assombrar. O pio da coruja... hoje ainda quando lembro um arrepio percorre minha espinha.

Eram pequenos eventos...mas que nos causavam grandes emoções.

O que seria da vida sem emoções?

Fechei os olhos pra lembrar melhor aqueles momentos noturnos... pra frente pra trás... pra frente, pra trás... e cochilei... mais uma vez

domingo, 9 de junho de 2013

Em alguns poucos minutos, três ambulâncias passaram pela avenida em frente à minha sacada. A sirene de ambulâncias invariavelmente traz à minha memória meus dois irmãos mais velhos: Justino e Federico.

'Dois sonhadores', papai sempre se referia a eles assim. Alistaram-se como os outros quase 25 mil soldados brasileiros que foram enviados para a Europa para combater ao lado das forças estadunidenses na Itália.

Para os dois foi a grande e única oportunidade de conhecer o país de nossos antepassados. Atravessar o oceano e sentir o cheiro da Itália, pisar a terra da Itália, falar italiano sem medo de falar italiano...

Voltaram cheios de histórias.... as consequências de uma guerra nunca são boas... são dramáticas, são brutais. 'Seres humanos transformados em brutos' eram palavras mil vezes repetidas por Tino.

Lembro agora de que eles sempre contavam que, ao entrar em uma cidadezinha perdida entre os montes, um dos soldados atirou em um homem que surgiu de repente em frente a eles. Justino perguntou: 'por que você atirou?' E o soldado respondeu: 'talvez ele fosse um rebelde'.

Mas a sirene da ambulância me faz lembrar mesmo é de Ico....era médico que ele queria ser... Depois da guerra, nunca mais quis ser nada. Viveu até o último dia de sua vida da terra em que plantava tudo o que precisava e dos animais que criava.

'Tenho tudo o que preciso.... e já vi tudo o que precisava ver para perceber que não vai fazer a menor diferença se eu curar uma ou dez mil pessoas como médico, a vida de cada um e de todos é verdadeiramente inútil', dizia sempre....






sábado, 8 de junho de 2013

O sol nasceu forte... com todo o seu calor aqueceu a sacada cheia de vasos de flores. As flores procuram pelo sol. Costumo observar o movimento delas em direção ao astro rei. Viro o vaso para as flores mais bonitas ficarem na direção da minha sala. E as flores teimosas vão lentamente mudando de direção.. dois ou três dias é o suficiente para elas darem as costas para mim e se abrirem num lindo sorriso para o sol.

E eu vou lá e viro o vaso de flores novamente... e elas insistentemente voltam-se para o sol... é uma batalha entre mim e o sol....

Será que as flores não cansam de mudar de direção?

As nuvens branquinhas começaram a surgir no horizonte... devagarinho foram se aproximando; esconderam um pouquinho o sol... depois ficaram densas, escuras e o sol desapareceu por completo... até parecia que ia chover....

Fechei os olhos...  e a cadeira pra frente, pra trás... pra frente, pra trás...acho que cochilei.... quando abri os olhos alguns raiozinhos de sol começavam a sair de entre as nuvens... qualquer brechinha servia para o sol se espalhar.... e ele se espalhou e se espelhou no lindo mar azul.

Novembro de 1925... como já falei foi o dia que escolhi para vir ao mundo. Não lembro bem se tive a opção de escolher esse dia, também não sei se me foi permitido escolher o lugar onde nasci.

Simplesmente nasci num lugar e num dia qualquer... exatamente como todo mundo. Não é verdade que todo mundo começa assim? Num dia qualquer, num lugar qualquer!? Eu não seria exceção, claro.

Cheguei para papai e mamãe. Antes de mim, chegaram Justino, Federico, Odília, Teresa e Lenira.

Quando cheguei Teresa não estava mais aqui... uma coisa muito triste aconteceu com ela. Foi um acidente muito, muito triste... sempre que me lembro as lágrimas insistem em correr pelo meu rosto. E eu deixo, não seguro mais, elas rolam e eu deixo rolarem... não luto contra.

Cheguei, fui enrolada em uns paninho... só vestiram uma camisetinha branca... mais nada de roupas. Quando meus irmãozinhos nasceram foi tudo sempre igual. Cada um que nascia era enrolado em panos, ganhava uma camisetinha, era deitado no bercinho de ferro e ficava lá. Ficava até começar a gritar... gritar... gritar... de fome, é claro.

Então mamãe pegava o bebezinho e dava de mamar.... e durante uns seis ou sete meses era só o que os bebês ganhavam: mamadas

quarta-feira, 5 de junho de 2013

O estado do Rio Grande do Sul é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Quem primeiro chegou ao estado - quando só havia índios minuanos, charruas e caaguaras, que viveram há 12 mil anos a.C. - foram os jesuítas, lá pelo ano de 1600.

Depois chegaram os portugueses que brigaram com os espanhóis para tomar conta do lugar. Houve uma divisão entre esses dois povos.... muita briga... mais briga... e os jesuítas no meio, e os indígenas... enfim, briga e briga até que se definiram as fronteiras que estão aí até hoje.

Em 1875 começaram a chegar os italianos e, até 1914, entre oitenta a cem mil deles foram introduzidos no Rio Grande do Sul. A colonização italiana aconteceu no planalto ao norte, porque as terras baixas já eram ocupadas pelos alemães.

Durante o século XX, aconteceram grandes migrações no interior do estado gaúcho. Muitas famílias italianas abandonaram as serras e se espalharam por todo o estado, exatamente como as famílias de papai e mamãe.

As duas famílias se instalaram em Bento Gonçalves e, junto com muitos outros colonos, encontraram na região um clima extremamente favorável, semelhante ao europeu, para estabelecer a cultura da videira, que ainda é a predominante na região, no chamado Vale dos Vinhedos.

No comecinho do século XX, chegou a rede ferroviária até à região, e isso facilitou o escoamento da produção de vinho, proporcionando uma base econômica sólida para muitas famílias.

Uma das melhores lembranças de quando era criança que tenho é a de andar embaixo daqueles parrerais que pareciam não ter fim. Lembro que papai me pegava no colo para que eu colhesse os cachos lindos e saborosos de uva.

Achava maravilhosos aqueles dias quentes de verão que passávamos na casa de meus avós. Sinto o cheiro da madeira da casa deles, da polenta na chapa, do queijo e salame guardados no porão - de pedra - sempre fresco... do vinho que os adultos bebiam - nós, as crianças também podíamos beber um pouquinho de vinho doce que vovô fabricava. Cheiro das geleias, pães, cucas que vovó fazia...

Lembro do sabor inconfundível dos grostoli (orelha de gato) inconfundíveis, das tortinhas recheadas com geleia de uva, dos canudinhos recheados com sagu de vinho...

O que seria o homem sem a memória? Como é viver sem memória?

Eu aqui, neste momento, sem me mover - só a cadeira de balanço pra frente... pra trás... - e milhares de milhares de imagens... rostos, rios, jardins, casas, roupas, os dias de sol - o calor -; os dias de chuva - o barulho no telhado de zinco; os banhos nos rios... o cheiro de milho verde, o pinhão na chapa... memórias.

É disto que a vida é feita? De memórias?

Do que é feita a vida mesmo?

Do presente? Do futuro? Ou do passado?... Ou dos três juntos?

A vida é feita de momentos que estavam no futuro, saem de lá, chegam ao presente, por milésimos de segundo ficam no presente, vão para o passado e se depositam pra todo o sempre no passado?

Continuamente....até o fim!?

domingo, 2 de junho de 2013

Pra frente... pra trás... pra frente... pra trás... meus olhos cansados se fecham lentamente... cochilo. De uns tempos pra cá, tenho cochilado tanto.

Todo vez que volto da cidadezinha onde nasci, prometo a mim mesma que é a última vez. Venho tão carregada de lembranças que elas pesam nos meus ombros, nos meus olhos... pesam tanto, que me fazem andar devagar, cada vez mais devagar.

E o tempo passa tão rápido... e quando vejo, descumpri minha promessa e estou lá... outra vez, mais uma vez. Quem sabe a última vez.

O mar à minha frente está mais escuro, o céu se encheu de nuvens, densas nuvens - os cumulonimbus -  provavelmente vai chover, uma pancada forte, talvez. Os carros continuam de lá pra cá, continuamente.

Novembro de 1925.... o verão é longo. O sol escaldante castiga as plantações ao redor da pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul onde nasci - Xingu Novo.

Num dia quente, muito quente de novembro, nasci. E até meus 20 anos, morei nessa cidade que se esconde no meio de alguns morros que a circulam. Quanta história ela esconde!

Nada de especial nessas histórias... são apenas histórias de vida... de vidas - que passaram, que passam e que passarão. Porque é nisto que consiste a vida: passar.

Querida vida... você não cansa de passar? Você não sente vontade, de vez em quando, pelo menos, de em algum lugar ficar parada, estática, sem movimento pra frente. Não se mover... ficar pra todo o sempre parada? Ser pra sempre?

Não consigo parar de pensar que vou morrer. Não consigo parar de pensar em todas as minhas perdas. Porque morrer é deixar de ser, é perder. Não quero perder você, vida...

sábado, 1 de junho de 2013

Estou aqui em minha cadeira de balanço... pra frente, pra trás... pra frente, pra trás.... De onde estou vejo o mar - cinza neste momento -, duas ilhas lá na frente... e o movimento contínuo de carros na avenida onde moro.... de lá pra cá, de cá pra lá, continuamente...

Será que eles não cansam?

E eu? Estou cansada? Às vezes, acho que sim.... muito cansada; noutras, nem tanto... só o suficiente pra deitar e dormir.

Na sacada, coloquei um bebedouro para os beija-flores... e eles vêm trinta, quarenta vezes ao dia... sempre a mesma ação: colocam seu biquinho em um buraquinho, em uma florzinha... sugam minúsculas gotinhas de água, e se vão.

Será que eles não cansam?

O balançar da cadeira, o barulho contínuo dos carros, o zumbido de uma abelha... o que me dá mais sono? Não sei... tudo junto, quem sabe.

Fecho os olhos e uma nostalgia sem tamanho e sem forma me envolve inteira, assim como a noite imensa joga seu véu sobre o dia que se entristece e anoitece. A nostalgia toma a minha forma ou sou eu que me transformo?

Acabei de chegar da cidadezinha onde nasci. Há três dias eu estava lá, mais uma vez... visitei os lugares, as pessoas... relembrei, relembrei e relembrei.

Agora estou aqui, e as lembranças estão grudadas em mim. Colaram com um tipo de cola que não sai com água de jeito nenhum.

Só há um remédio: o tempo.

O tempo!! Será que ele não cansa?